Isabella Loureiro
ICCP 2011 - Houston - TX
Trotter Family YMCA - Day Camp
E-mail: bellaloureiro@yahoo.com.br
Quem me conhece bem sabe que sou uma pessoa daquele tipo que quando
coloca uma coisa na cabeça não tira até conseguir. Quando comecei a
estudar inglês, me apaixonei pela língua e desde então plantei um sonho
dentro de mim: o de fazer um intercâmbio. Comecei a pesquisar todos os
programas e modalidades de intercâmbios bem conhecidos em Belo
Horizonte, mas todas as minhas pesquisas me levaram à mesma conclusão:
eu não tinha condições financeiras para realizar o meu sonho. Eu era
bolsista na faculdade, fazia estágio e como todos sabem, salário de
estagiário não dá para quase nada, imagina para fazer intercâmbio?!?! Da
mesma forma, meus familiares também não poderiam arcar com as despesas
de um intercâmbio, palavra esta que começou a representar algo que
definitivamente estava fora da minha realidade naquele momento. Mas a
semente do meu sonho estava plantada dentro de mim e eu sabia que um dia
ele iria começar a germinar e se tornaria realidade. E eu estava certa!
Em 2009, uma das minhas colegas de classe tomou
conhecimento sobre o ICCP por intermédio do seu professor de inglês, um
tal de Dawg (alguém já ouviu dizer?) e começamos a conversar sobre o
programa. Até que de repente, a Nanda Ferreira, minha também colega de
classe, nos dá a notícia: “Eu já viajei pelo ICCP e hoje sou counselor”.
(É o que? - meu primeiro pensamento...) A partir daí ela me explicou
tudo sobre o programa e colocou “aquela” pilha para eu me
inscrever. Fui no Open House de 2009 com a minha colega que já tinha se
decidido a fazer o programa, mas acabei não me inscrevendo, por estar
envolvida em uma matéria muito complicada na faculdade. Minha colega
acabou desistindo também. Mas eu já tinha me determinado a me inscrever
em 2010 e assim, fui participar da tão sonhada entrevista, com o tal
counselor, professor da minha colega de classe!
Inscrevi-me
no ICCP e comecei a frequentar os Meetings e Recreations, conheci
pessoas fantásticas, descobri candidatos vizinhos, que assim como eu
estavam inconformados de o treinamento não ser mais no Caiçara. No
entanto, em pouco tempo, isso passou a ser apenas um detalhe que já não
fazia mais a menor diferença, pois o simples fato de preencher o meu
final de semana indo para aquele lugar mágico se tornou algo encantador e
apaixonante. Em pouco tempo, eu me via toda semana debruçada sobre, de
um lado, livros e apostilas com atividades infantis (emprestados pela
minha mãe que é educadora infantil) junto com meu dicionário de inglês,
do outro lado, meus livros e anotações da faculdade, afinal, eu também
estava envolvida com projeto de conclusão de curso! TENSO! Eu chegava em casa suada, dolorida,
cansada, descabelada e suja, mas eu chegava em casa feliz, muito feliz
por sentir que eu poderia alcançar o meu sonho da maneira mais
maravilhosa que poderia existir: voltando a ser criança!
E
quando se volta a ser criança, você brinca, você ri, você chora, você
expressa exatamente o que o seu coração sente. Você volta até a receber
comida na boca, acreditam??? Sim!!! Esse foi um dos castigos que a
criança aqui recebeu por desobedecer as regras do 1st camp: não falar
português. Quando se é criança, você faz teatrinho e acha que é ator de
Hollywood, encena histórias sobre vampiros e homens que viram lobo, e
encarna literalmente a BELLA, da saga Crepúsculo, sendo garota
propaganda de um sorvete chamado IceGreen, idealizado por um tal
sorveteiro Mr. Green!
(risos)
Voltando ao
treinamento, me lembro como se fosse hoje do resultado da segunda etapa.
A Manu disse: “uma vaga feminina, para Day Camp em Trotter Family, em
Houston/TX e a pessoa selecionada para esse camp vai tá bem demais, vai
tirar férias em um spa! BELLA!” Caramba, era eu mesma! É
galera, mas não é bem assim não! O camp realmente é maravilhoso, com
uma mega estrutura, realmente tem uma jacuzi bem no estilo spa - que as
ICCPs de Houston quando foram me visitar ficaram alucinadas (hihihi) -
mas não era moleza não! Fui pra lá e trabalhei igual gente grande!
E
como foi maravilhoso... brinquei, cantei, nadei, curti messy days, festa
do pijama e sessão pipoca com mais de 50 crianças de 7 anos de idade
que passaram pelo camp naquele verão. Ensinei todos os campers a
cantarem Bull Dog, a ponto de se tornar o hit predileto durante as
opening e closing cerimonies. Visitei os mais variados lugares durante
as Field Trips, que aconteciam duas vezes toda semana, fiz brigadeiro,
ensinei a fazer e a jogar peteca, falei sobre o Brasil, aprendi algumas
poucas palavras em francês, com um dos meus campers que não sabia falar
outra língua! Também ganhei uma professorinha de inglês, uma das minhas
campers de 7 anos que sempre me corrigia quando eu falava algo errado,
me fazia entender alguns vocabulários novos e tirava toda e qualquer
dúvida.
E quando você ouve frases do tipo “I love you, miss Bella”,
“you're my favorite one”, “I'll never forget you”, “I'll miss you” e
recebe beijos, abraços, desenhos, recadinhos e todo tipo de manifestação
de carinho vindo de crianças que nunca te viram antes na vida e mal
sabem de onde você veio... É realmente inexplicável! O sentimento de
recompensa e gratidão que invade o seu coração, só quem passa por isso
consegue entender!
Além do camp, em Houston ganhei cinco
presentes preciosos, que ficarão guardados comigo por toda a minha
vida: cinco famílias simplesmente fantásticas. Lá, ganhei novos pais,
mães, um vovô e uma vovó maravilhosos e os irmãos e irmãs mais novas que
eu não tinha antes. Tive uma irmãzinha bem “Barbie Girl”, que ficava o dia
inteiro se equilibrando pela casa com os meus sapatos de salto alto,
passava minhas maquiagens e fazia desfile de moda vestindo minhas roupas
(sim, serviam nela...). Também tive um trio de irmãozinhos que
repentinamente me enchiam de socos, até eu descobrir que eu estava em
uma brincadeira chamada Punch Yellow, que consiste em literalmente socar
um ao outro sempre que avistassem um carro amarelo na rua! (Candidatos,
não brinquem disso com suas crianças no camp! risos)
No primeiro dia
que fui para essa família dos meninos, fomos passar o 4th of July em uma
casa no lago, que foi invadida por um ladrão bêbado, enquanto estávamos
dormindo! Esse episódio me fez conhecer um típico policial Texano, bem
ao estilo filme de Velho Oeste, com aquela estrelinha de xerife na
camisa e tudo!
Tive uma festa de despedida, organizada pelas famílias,
com direito a muita coisa boa em um típico restaurante mexicano e um
bolo com o seguinte dizer: “We will miss you Bella”. Conter as
lágrimas naquele momento, foi realmente impossível. Enfim... são
muitas as experiências maravilhosas e inesquecíveis que tive naquele
lugar!
Passada a experiência no camp, chegou a hora de
viajar! Elaborei um super roteiro de viagem que passava por New York,
Orlando e Miami. Embarcamos, 5 mulheres e mais um casal, rumo a muita,
mas MUITA diversão! Imaginem o Big Brother que não se tornou cinco
mulheres dormindo no mesmo quarto, juntas em camas de casal ainda por
cima! E como fazer para comer? Sem cozinha, com no máximo um microondas
no quarto, sem grana para comer fora? Bom, nossas refeições se resumiram
basicamente em pão de forma com queijo e presunto e comidas congeladas!
E voltando da Estátua da Liberdade em NY, policiais e bombeiros
circulavam pela rua, a população alarmada, e todos os executivos da Wall
Street fora dos seus prédios. Motivo? Terremoto! Pelo jeito as terras
lá para os lados de Lady Liberty não tremeram, pois não sentimos
absolutamente nada.
Os fenômenos naturais não se deram por vencido e
foram nos acompanhar. Alguém ouviu falar do furacão Irene? Pois bem,
ele chegou à ilha de Manhattan exatamente no dia de embarcarmos para
Orlando.
O nosso voo foi o último a decolar do aeroporto de New York, antes de
ele ser fechado. SIM, voamos sobre o furacão Irene, em um voo cheio de
uma turbulenta emoção! Mas chegamos bem em Orlando, onde curtimos os
parques da Disney e do Universal Studios. Em Miami... sol de 40 graus,
praia, água fresca e... JELLYFISH, muita jellyfish, quase impraticável
nadar naquele mar de Miami e South Beach.
Por fim, é
chegada a hora de voltar para o home, sweet home... Cheguei no Brasil
dia 4 de setembro de 2011, após mais de 3 meses em terras estrangeiras!
Foi muito bom rever amigos e familiares e matar a saudade de tudo que
por aqui ficou. Mas agora, parte de mim está lá. E o ICCP, por meio da
YMCA me proporcionou isso, me proporcionou realizar um dos maiores
sonhos de toda a minha vida, me fez perceber que é possível encontrar a
felicidade por meio da coisa mais inocente e singela que pode existir: o
sorriso de uma criança! E me fará memorar lembranças inesquecíveis por
toda a vida.
Costumo pensar que quando temos um sonho
muito forte dentro de nosso coração, Deus nos testa para saber se este
sonho é realmente verdadeiro ou mero desejo. Posso dizer que passei por
vários desses testes, que se apresentaram diante de mim em forma de
desafios, me trazendo duas opções: desistir ou passar por cima deles e
ir adiante. Resolvi seguir adiante e dizer SIM ao meu sonho, provando a
mim mesma que eu podia e era capaz. Portanto, se você realmente tem um
sonho verdadeiro, lute por ele com todas as suas forças, acredite e
prove a você mesmo que é capaz de consegui-lo. Desafios surgirão, com
toda certeza, mas enfrente-os tendo em mente de que o seu sonho é maior
do que qualquer impecilho.
Atrevo-me, por fim, a adaptar
uma frase de Fernando Pessoa: “Pedras no caminho? Guardei todas e
construí um castelo. E esse castelo ficou lá num lugar chamado Estados
Unidos.”